
Battle Train rogue like Deckbuilding Nintendo Switch não parece uma mistura óbvia à primeira vista. Eu pensei o mesmo. Mas foi justamente essa combinação improvável que chamou minha atenção. Em um mar de jogos que tentam reinventar o gênero sem sucesso, esse aqui tem coragem. Coragem pra misturar conceitos e propor uma batalha sobre trilhos onde cada carta vale uma jogada estratégica. Não por acaso, o jogo carrega aquele DNA clássico de quem quer se destacar sem precisar gritar. Só que… isso funciona mesmo? Vamos aos trilhos.
🎭 O Peso Cultural de Battle Train
Não tem como ignorar o quanto rogue-likes se tornaram parte do cotidiano gamer. Battle Train surge nesse cenário saturado, mas ao mesmo tempo fértil. A proposta lembra o experimentalismo de Nowhere Prophet e a estrutura clássica de Vault of the Void, mas dá um passo além ao transformar o campo de batalha em uma disputa ferroviária dentro de um reality show. Aqui, as tentativas frustradas são como episódios: um novo participante tentando derrubar o campeão invicto há 25 anos. Essa narrativa televisiva até lembra o humor ácido e satírico de The Stanley Parable, só que com cartas e trens.

Apesar de simples, essa ambientação carrega personalidade e me remete à teatralidade exagerada das letras de rock progressivo dos anos 70. Dá pra sentir algo de The Wall, do Pink Floyd, naquela ideia de um espetáculo onde o protagonista luta contra uma estrutura opressora.
⚙️ Mecânica e Ritmo: Trilhos, Sorte e Estratégia
Se tem algo que me prendeu foi justamente a jogabilidade. A mecânica de Battle Train é simples e direta: use cartas para posicionar trilhos, pegue recursos no tabuleiro e conduza seu trem até explodir a base inimiga. Funciona. O tutorial é rápido e intuitivo — sem enrolação.

Essa mistura de construção com cartas lembra bastante Wildfrost, mas adiciona o tabuleiro como diferencial. Só que nem tudo são flores. Se em jogos como Across the Obelisk ou Monster Train o balanceamento é afinado como um riff limpo de guitarra, Battle Train desafina. Os bosses parecem trapacear. É sério. Cansei de ver chefes usando cartas perfeitas na hora errada — pra mim. Reverter partidas quase vencidas virou rotina. Chegou a ser frustrante.

Rogue-likes normalmente punem erros do jogador. Aqui, às vezes a derrota vem pelo baralho do adversário ser, simplesmente, melhor. E isso quebra parte da diversão.

🎸 Integrar Narrativa e Letras de Rock
Não é difícil traçar paralelos entre a narrativa de Battle Train e o espírito contestador do rock. Aquela batalha constante contra um sistema, um campeão invicto, a tentativa de mudar as regras. É quase como ouvir Killing in the Name do Rage Against the Machine enquanto embarca em mais uma tentativa falha. A estética televisiva caótica também me lembrou o videoclipe de Californication, do Red Hot Chili Peppers: uma jornada virtual onde tudo parece desmoronar, mas a trilha continua.
A sensação de “não importa quantas vezes você tente, o jogo está armado contra você” é puro espírito punk. Battle Train não é só um jogo — é quase um grito contra a previsibilidade dos roguelikes atuais.
🎨 Arte Visual e Estética Sônica
Visualmente, Battle Train não tenta reinventar o 2D estilizado. O design dos trens, cartas e personagens é competente, mas sem grandes destaques. Cumpre sua função. Mas a trilha sonora merece aplausos. Sons eletrônicos misturados com guitarras distorcidas criam um ambiente que lembra a sinestesia de Into the Breach, mesmo que em menor escala.
Não é aquele jogo que vai te marcar visualmente como Cult of the Lamb ou Hades, mas entrega um bom pano de fundo sonoro que segura o clima tenso das partidas. A estética, no geral, funciona mais como suporte do que protagonista.

🗂️ Modos e Experiências Alternativas
Battle Train não tenta ir além do básico. Não tem modos alternativos grandiosos, nem multiplayer, nem desafios extras. O foco é a jornada individual do jogador tentando vencer o programa. Isso o diferencia negativamente de títulos como Roguebook, que oferecem mais variedade. Faltou um extra pra segurar a atenção por mais tempo.
✅ Afinações Perfeitas
- Mecânica intuitiva e criativa
- Combinação inteligente de Deckbuilding e construção
- Trilha sonora caprichada
- Narrativa divertida e fora do convencional
❌ Notas Fora do Tom
- Bosses extremamente desbalanceados
- Falta de modos adicionais ou extras
- Visual competente, mas sem brilho próprio
🎖️ Nota Final: 7.5/10
Battle Train não é o Dark Side of the Moon dos rogue-likes, mas está mais para um bom álbum lado B de uma banda clássica. Tem alma, tem intenção e entrega o que promete, mesmo tropeçando feio em alguns momentos. Um bom jogo, com cara de promessa, mas que precisa ajustar seu tom pra realmente subir no palco principal dos Deckbuildings modernos.
🎤 Entre Trilhos e Guitarras: Por que vale a pena embarcar
Um ponto positivo que merece destaque é que Battle Train já chega totalmente localizado para o português do Brasil. As traduções são competentes, com menus, cartas e diálogos bem adaptados, o que facilita muito a imersão — principalmente para quem não tem tanta familiaridade com inglês. Em um gênero que costuma trazer textos mais técnicos e descrições de habilidades, ter uma boa localização faz toda diferença pra aproveitar o jogo sem tropeçar em termos confusos.
No meio de tantos jogos que jogam seguro, Battle Train escolhe improvisar um solo ao vivo. Nem sempre afinado, mas cheio de atitude. Pode ser frustrante em alguns momentos? Pode. Mas, no fim, eu respeito quando uma obra tenta algo novo, mesmo sabendo que pode não agradar todo mundo. Battle Train é pra quem curte apostas ousadas e não se importa de desafiar a própria sorte.
📜 Ficha Técnica da Análise
Publicação: Terrible Posture Games / Bandai Namco
Plataforma testada: Nintendo Switch
Versão testada: Completa (Switch)
Chave do jogo: Fornecida gentilmente pela Bandai Namco
Data de lançamento: 18 de junho de 2025
Desenvolvimento: Terrible Posture Games, Inc. e Nerd Ninjas LLC.
Ah, e se você curte ver o jogo na prática antes de embarcar, tem gameplay completa das primeiras 1h25m de Battle Train lá no nosso canal do YouTube, o Rockverse Play. Mostrei desde o início da jornada, com as primeiras estratégias, os perrengues contra os bosses e aquele bom papo de quem gosta de jogo e rock. Confere lá, deixa o like e comenta o que achou — principalmente se também passou raiva com as cartas dos chefes.

Editor-chefe do Rockverse Play, onde minha paixão por games se conecta com a influência do rock, cinema, tecnologia e cultura contemporânea. Lidero a criação de conteúdos que exploram como esses elementos moldam o universo dos jogos, oferecendo uma experiência única para os fãs.