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Um clássico cult ressuscitado, agora com um novo brilho

Jogando RAIDOU Remastered: The Mystery of the Soulless Army, mergulhei novamente naquele universo esquisito, fascinante e ousado que só a Atlus sabe criar. Esse RPG obscuro do PS2 retorna agora com roupagem nova, sem abrir mão do espírito original. Quem conhece a franquia Shin Megami Tensei já espera aquele clima meio sinistro, misturado com filosofia, ocultismo e dilemas existenciais. E foi exatamente isso que encontrei.

O curioso aqui é que RAIDOU Remastered não é só um remaster, mas também um remake disfarçado. Ele mantém a base do jogo original, mas traz melhorias substanciais — visuais refeitos em 3D, sistema de batalha refinado e até dublagem completa para dar mais vida aos personagens. O projeto segue o padrão Atlus de modernizar sem perder identidade, e isso fica nítido na forma como a narrativa mantém seu tom original, mesmo com as novidades técnicas. Agora, diferente do que alguns podem esperar, o jogo não está localizado para português do Brasil, mantendo áudio e textos apenas em japonês e inglês. Diante de tantos lançamentos recentes com localização total, essa ausência acaba sendo um ponto a se considerar.

Imagem capturada da gameplay do jogo rodando no Nintendo Switch 1

Um relançamento à altura de seu legado

Quem viveu a era do PS2 vai lembrar do quanto RAIDOU Kuzunoha era um título curioso, especialmente por tentar algo fora da curva dentro da própria Atlus. Ele traz aquele toque sombrio que vimos em obras como Digital Devil Saga e Shadow Hearts: Covenant, misturando ambientação pesada com sistemas robustos. RAIDOU se passa no Japão dos anos 30, repleto de bondes, becos escondidos, trajes de época e muita influência noir.

Esse clima sombrio contrasta com outros JRPGs da época, mas ainda assim soa familiar para fãs de narrativas densas. Mesmo com as limitações herdadas da sua época, o jogo consegue preservar esse ar cult que o tornou um nome de nicho querido entre os fãs de MegaTen.

Imagem capturada da gameplay do jogo rodando no Nintendo Switch 1

Ação direta, mas com raízes clássicas

O combate, agora em tempo real, representa uma das principais mudanças em relação ao original. O sistema foi renovado a partir do segundo jogo da saga Raidou, tornando os embates mais fluidos e dinâmicos. Raidou utiliza espada, armas de fogo e invoca até dois demônios simultaneamente, o que amplia o leque estratégico.

Se você curte RPGs de ação como Ys VIII: Lacrimosa of Dana ou Tales of Arise, vai reconhecer algumas semelhanças — mas RAIDOU ainda carrega aquele jeitão mais metódico. Algumas lutas menores se tornam repetitivas, mas os combates contra chefes oferecem o desafio que se espera, exigindo escolha cuidadosa de aliados e domínio do sistema.

Ainda assim, senti que a parte investigativa poderia ter sido mais explorada. A ideia de misturar investigação com ação era promissora, mas acaba sendo usada de forma mais superficial do que poderia.

Imagem capturada da gameplay do jogo rodando no Nintendo Switch 1

Entre o lirismo sombrio e o caos urbano

Toda a atmosfera do jogo me trouxe à cabeça aquela pegada grunge sombria, mais precisamente o disco Dirt, do Alice in Chains. O jogo tem esse tom introspectivo, onde o protagonista carrega uma missão maior do que ele, mergulhado em uma sociedade decadente. Essa mistura de detetive, demônios e dilemas morais combina demais com o lirismo angustiado de Jar of Flies.

E a estética caótica de RAIDOU também ecoa no espírito experimental de No Code do Pearl Jam — entre a ordem e o caos, entre o controle e a entrega ao destino. Essa conexão entre a densidade emocional do jogo e os grandes álbuns do rock alternativo cria uma sinergia que só quem curte as duas linguagens percebe.

Imagem capturada da gameplay do jogo rodando no Nintendo Switch 1

Novo visual com alma antiga

A modernização gráfica foi muito bem-vinda. Nada de fundos pré-renderizados: agora temos ambientes 3D completos. Só que a velha guarda vai reconhecer os resquícios da geração PS2, principalmente nos ângulos de câmera fixos e na navegação um pouco truncada entre áreas.

Em contrapartida, a trilha sonora mantém o peso e a qualidade que a Atlus sempre entregou. As músicas foram retrabalhadas, mas mantêm a essência original. A adição da dublagem foi um grande acerto, reforçando ainda mais a personalidade dos personagens. Aqui, a Atlus mostra respeito pela própria obra.

Imagem capturada da gameplay do jogo rodando no Nintendo Switch 1

Novos desafios, velhas amarras

Entre os conteúdos inéditos, o destaque fica para um calabouço exclusivo recheado de demônios e combates desafiadores. Algumas lutas possuem regras únicas, exigindo mais preparação e domínio das mecânicas. Essas adições são bem-vindas, mas o sentimento é de que poderiam ter ousado ainda mais, especialmente na parte de exploração e variedade de escolhas.

Se compararmos com experiências como The Legend of Heroes: Trails into Reverie, a estrutura de RAIDOU soa mais contida. Há profundidade, mas falta aquele algo a mais pra surpreender veteranos de RPGs.

Afinações Perfeitas x Notas Fora do Tom

Afinações Perfeitas:

  • Visual renovado e respeitoso ao original
  • Sistema de combate ágil e refinado
  • Trilhas retrabalhadas com dublagem adicional
  • Conteúdo inédito que expande a experiência
  • Atmosfera única que mantém o charme cult

Notas Fora do Tom:

  • Ausência de localização para português do Brasil
  • Sistema investigativo subaproveitado
  • Progressão linear com pouca liberdade de exploração
  • Combate repetitivo fora das batalhas contra chefes

RAIDOU Remastered é mais do que nostalgia: é redescoberta

Esse jogo não é apenas uma viagem nostálgica. RAIDOU Remastered representa a tentativa honesta da Atlus de apresentar uma obra importante do seu catálogo para um público novo, sem abrir mão da identidade original. Mesmo com limitações e amarras da época, é uma experiência que vale a pena — principalmente para quem curte universos densos, temas sobrenaturais e aquele peso característico que mistura RPG japonês e rock alternativo.

Se você aprecia jogos da linha Shin Megami Tensei, gosta de traçar paralelos entre games e clássicos do rock, e valoriza uma boa jornada cheia de mistérios, essa obra merece um espaço na sua coleção.


Ficha Técnica da Análise

  • Plataforma testada: Nintendo Switch
  • Versão analisada: Final
  • Contexto da análise: Teste feito em setup portátil e dock, desempenho estável.
  • Cópia gentilmente fornecida por: Atlus
  • Lançamento: 19 de junho de 2025

Nota Final: 8,0

Um clássico cult revisitado com respeito, mas que ainda carrega as limitações do seu tempo. Um lançamento importante para quem quer mergulhar nos cantos menos conhecidos da Atlus.


Se você curtiu essa análise, te convido a colar lá no canal e conferir comigo os primeiros 45 minutos de RAIDOU Remastered: The Mystery of the Soulless Army. Dei o start nessa jornada sombria e tá tudo registrado na gameplay completa. Dá essa moral, confere o vídeo, comenta o que achou e já se inscreve pra fortalecer. Bora seguir juntos nessa?


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