
Assassin’s Creed Shadows abre o palco com a intensidade e a contemplação de “Burden in My Hand”, do Soundgarden, direto do álbum Down on the Upside (1996). Uma faixa melancólica e cheia de dualidade, onde o remorso e a busca por redenção se entrelaçam no deserto da alma. A atmosfera do som casa perfeitamente com a jornada emocional da protagonista Naoe e seu parceiro involuntário Yasuke: dor, culpa, vingança e, quem sabe, um novo caminho para a paz.
“I buried my heart in the hole in the ground” “Enterrei meu coração num buraco no chão”
Desenvolvido pela Ubisoft Quebec, o game chega com ousadia ao transportar a franquia para o Japão do século XVI. A equipe canadense mostra coragem ao explorar não só a dualidade cultural do período como também a tradição da franquia, equilibrando inovação e legado com a mão firme de quem já tem noção do peso que carrega. Mas aqui, quem segura o microfone é Naoe. Yasuke entra no palco, mas a luz dos refletores claramente não foi feita pra ele.
O rugido do passado em terras orientais
A escolha do Japão feudal é certeira, mas também desafiadora. Ao contrário de Origins, Odyssey e Valhalla, que exploraram períodos e territórios ainda pouco tocados pelos jogos mainstream, Shadows pisa em solo conhecido. A boa notícia? O game ainda consegue imprimir identidade própria. A mudança das estações é muito mais que estética: ela afeta a jogabilidade, a movimentação, a inteligência artificial e a rotina dos NPCs. O mundo reage a você e você precisa reagir ao mundo. Uma troca justa, intensa e musical.
Ubisoft, ao meu ver, é uma das melhores empresas no que diz respeito à ambientação. E Assassin’s Creed Shadows comprova isso em cada canto do mapa. O ar de mistério e vislumbre das construções xintoístas, as florestas super densas e riquíssimas em fauna e flora, as cidades em pleno desenvolvimento como Quioto, os montes íngremes com vistas de tirar o fôlego.
O jogo faz jus ao Japão Feudal e entrega toda a beleza e pavor do período. Andando pelo mapa podemos encontrar um tenuki brincando e, logo em seguida, um corpo carbonizado crucificado.

Entre sombras e aço: dois estilos, uma jornada
Se Assassin’s Creed é um riff, Naoe é o solo afiado. É com ela que o jogo brilha, misturando parkour responsivo, furtividade repaginada e mecânicas que trazem de volta a alma da franquia. O uso de luz e sombra, os detalhes sonoros, o posicionamento dos inimigos e as interações com o cenário tornam cada infiltração um quebra-cabeça tático.


Já Yasuke… é groove pesado sem variação. Forte, brutal e quase invencível, o samurai é divertido por curtos momentos, mas a falta de complexidade em suas missões rapidamente torna sua presença repetitiva. Ele é um tanque num jogo que quer que você dance.


Ecos de alma e fúria
A narrativa tem altos riffs, mas também umas notas fora do tempo. A conexão emocional entre Naoe e Yasuke aparece em cenas tocantes — como quando observam nuvens ou falam sobre o mundo lá fora —, mas a trajetória entre esses momentos é truncada. A busca pelos mascarados não empolga como deveria. Falta ligação entre os alvos, faltam pistas, faltam motivos.
“Don’t let the world bring you down, not everyone here is that f***ed up and cold” “Não deixe o mundo te derrubar, nem todo mundo aqui é tão fodido e frio”

Tempestade nos olhos, silêncio nos passos
A parte sonora do jogo é sinistra! Com trilhas contemplativas, introspectivas e momentos de puro J-Rock explosivo, a ambientação sonora dita o tom emocional e dinâmico da jogabilidade. Nos momentos de esgueirar com Naoe, a música silencia e o coração fala mais alto. Quando Yasuke entra em cena, a batera arrebenta.
Visualmente, o jogo é um colírio. Os ciclos climáticos impactam não só a jogabilidade mas a imersão total. Os detalhes são tantos que é possível ver as estações mudarem o comportamento da população, as plantações e até os sons do ambiente.
Toda a parte visual fica ainda mais charmosa graças à um ambicioso sistema de estações do ano dinâmicas que causam um impacto tanto na beleza dos mapas quanto na jogabilidade. No inverno, várias áreas do mapa ficam cheias de neve, tornando a movimentação mais truncada. No outono, temos uma explosão de cores e árvores cheias de vida.
Servindo como suporte para os visuais belíssimos, temos um trabalho sonoro sublime, ajudando na imersão da época. Podemos perceber o som de diversos instrumentos, como a Biwa, o Shamisen, o Taiko e o Hyoshigi. Até o som das espadas chocando-se uma nas outras ficou muito bem feito. Além da trilha e dos efeitos sonoros, a dublagem japonesa está impecável e, a brasileira continua sendo o padrão da Ubi, pra mim uma das melhores empresas na localização dos jogos.

Onde o fogo arde, mas não ilumina
O sistema de missões é funcional mas perde em profundidade narrativa se comparado ao que já vimos em Odyssey e Valhalla. As investigações são isoladas, sem impacto real no todo. A introdução da “Liga” é interessante no gameplay, mas rasa no drama. Os recrutas são úteis, mas esquecíveis.

Afinações Perfeitas x Notas Fora do Tom
Afinações Perfeitas:
- Jogabilidade furtiva com Naoe é a melhor da franquia desde Unity.
- Sistema de estações inovador e integrado ao gameplay.
- Trilha sonora emocional e poderosa.
- Ambientação rica e artisticamente marcante.
Notas Fora do Tom:
- Yasuke é mecanicamente inferior e pouco flexível.
- Investigações são repetitivas e desconectadas.
- Falta de coesão narrativa entre arcos.
- Companheiros pouco desenvolvidos.
Nota Final e Justificativa
Nota: 9.0 Apesar dos tropeços narrativos, o jogo entrega uma experiência marcante. Com Naoe, Assassin’s Creed encontra seu groove novamente, e se firma como um dos mais criativos da fase RPG.
Ressonância Final: Entre o corte e o eco
Assassin’s Creed Shadows é sobre feridas e cicatrizes. Sobre vingança e reconstrução. E como no refrão de Burden in My Hand, a jornada de Naoe carrega peso, dor e alguma esperança.
“Kill your past and fill your shoes” “Mate seu passado e preencha seus próprios sapatos”
E no final das contas, é isso que Shadows nos convida a fazer: entender que o passado é uma sombra, mas também pode ser o palco onde renascemos.
Informações sobre a Análise
Esta análise foi realizada com base na versão para PlayStation 5, com desempenho otimizado a 60fps. A chave foi gentilmente cedida pela Ubisoft.
- Plataformas: PS5, Xbox Series X|S, PC
- Línguas: Áudio e texto em português do Brasil
- Gênero: Ação, RPG, Aventura
- Número de jogadores: 1
- Desenvolvedora: Ubisoft Quebec
- Publicadora: Ubisoft
- Lançamento: 20 de março de 2025
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