
“We face the path of time” – e seguimos mesmo assim.
Clair Obscur Expedition 33 não tem pressa pra te conquistar — mas quando te pega, é na carne viva. Desde a primeira cena, você entende que vai viver um espetáculo de tristeza estilizada, onde cada diálogo, cada golpe, cada som carrega o peso de estar vivo quando tudo à sua volta insiste em apagar você.
Esse RPG francês não esconde suas influências japonesas; como resultado, as recicla através de um filtro próprio: teatral, niilista e melancólico — como se alguém tivesse jogado Final Fantasy X sob as luzes de um palco da Belle Époque, ouvindo Alice In Chains em loop.
A analogia aqui não é só musical. É existencial. Porque Clair Obscur é, na essência, o retrato sonoro de “Nutshell”: uma carta de despedida que não desiste de sentir, mesmo sabendo que não vai sobreviver.
“We chase misprinted lies / We face the path of time”
— e ainda assim enfrentamos.
A arte como sentença de morte
A história se desenrola em Lumière, uma cidade pintada à beira do abismo, onde a arte virou sentença. Todo ano, uma entidade chamada A Pintora escreve um número numa torre, decretando a idade em que os moradores irão desaparecer. É o mundo como performance trágica: o tempo virou pincel e o fim virou espetáculo.
Você comanda a 33ª expedição rumo ao desconhecido — uma marcha de condenados tentando destruir o pincel divino que define seus destinos. Cada passo ecoa como um verso sombrio de Nutshell: “I’d feel better dead”. Mas no fundo, o que move esses personagens não é desistência — é a vontade de reescrever o próprio refrão.

Turnos com melodia de dor
O combate é onde o jogo explode em estilo e tensão. Influências de Persona, Mario RPG, Like a Dragon — tudo costurado num sistema que exige timing, leitura e precisão emocional. Você não só ataca: você interpreta o momento, com inputs em tempo real que transformam turnos em duelos coreografados.

Cada personagem tem seu próprio ritmo: Gustave acerta como quem soca a parede do próprio quarto; Lune canaliza magia como quem escreve poesia sob pressão; Maelle alterna poses como uma dançarina presa entre o sublime e o colapso. O destaque vai pra Sciel, que lida com cartas e fases lunares, numa construção simbólica que parece saída de uma letra de Layne Staley — bipolar, mística e desesperada por controle.

O sistema te desafia a entender padrões como um baterista grunge: os inimigos atacam em cadências específicas, e sua sobrevivência depende da tua capacidade de sentir o tempo certo. É aí que o combate vira catártico — você não apenas joga, você reage ao mundo com o corpo.
Uma jornada sem fôlego
Com cerca de 35 horas de campanha, Clair Obscur não perde tempo com enfeite. Tudo é direto, mas nunca raso. A história evolui com base em interações e silêncios — como se as entrelinhas gritassem mais que os discursos.
Mas não espere redenção fácil. A estrutura narrativa do jogo é quase cíclica, repetindo a ideia de que arte também é cárcere, que às vezes a ficção serve mais pra esconder a dor do que pra curá-la. É o mesmo tipo de anestesia emocional de “Nutshell”, onde a letra parece pedir socorro e resignação ao mesmo tempo.
O luto aqui não é tratado como evento. É tratado como matéria-prima. Os personagens estão presos num mundo que glorifica a perda, enquanto tentam manter viva a chama de algo que valha a pena salvar — mesmo que ninguém volte pra contar.

Entre o sublime e o grotesco
Visualmente, o jogo é uma obra de arte. Literalmente. Cada ambiente parece uma pintura com vida própria, oscilando entre o romântico e o decadente. É o tipo de beleza que te faz sentir culpa por estar admirando enquanto tudo à volta se desfaz.
A trilha sonora é outro ponto absurdo. É impossível não ouvir ecos de Alice In Chains, Evanescence, Dream Theater e Épica em cada composição. Tem cordas que sangram, vocais operísticos que ressoam como orações distorcidas e sintetizadores que imitam sussurros de fantasmas.
É música pra morrer de pé — ou viver ajoelhado.
Um mapa pra se perder
O mundo de Clair Obscur te dá liberdade dentro da linearidade. O mapa chibi e os transportes desbloqueáveis lembram os clássicos da Square — e você vai se perder em ilhas flutuantes, segredos sem log e superbosses que parecem lendas urbanas.
Não tem quest log. Nem minimapa em dungeons. Mas talvez isso seja proposital. Porque esse mundo não quer ser navegado — ele quer ser sentido. Você avança pelo instinto, pelo som, pelo cheiro de tragédia que se aproxima. E quando chega, não tem aviso. Só uma tela carregada de silêncio.

Acertos, falhas e verdades
Clair Obscur brilha quando te desafia a entender que o combate não é só mecânico — é emocional. Ele derrapa em detalhes de interface, menus poluídos e decisões apressadas no terço final da história. Mas nada disso enfraquece o que ele entrega: uma experiência coesa, artística e devastadora.
Como o próprio verso de Nutshell, “I fight this battle all alone / No one to cry to, no place to call home” — esse jogo fala de lutar mesmo quando ninguém mais tá ouvindo. E, porra, isso bate fundo.
🎸 Afinações Perfeitas x Notas Fora do Tom
Altos:
- Sistema de combate absurdo de bom
- Direção de arte memorável
- Trilha sonora de respeito
- História impactante e bem atuada
- Personagens únicos e com identidade clara
Baixos:
- UI bagunçada nos menus de Pictos
- Falta de minimapa em áreas labirínticas
- Algumas reviravoltas apressadas demais
Nota Final: 9.5 / 10
Clair Obscur Expedition 33 é um JRPG de alma francesa e espírito grunge, que transforma dor em arte, e arte em luta. Uma obra que soa como uma canção triste tocada no fim do mundo — mas que se recusa a calar.
Se Nutshell é uma carta de despedida contida dentro de um sussurro, Clair Obscur é a tentativa de rasgar essa carta e escrever outra história — mesmo que seja a última.
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A primeira hora de Clair Obscur: Expedition 33 tá disponível no nosso canal e mostra na pele tudo que a gente falou aqui: o drama, o peso, a arte que dói. É tapa visual, combate tenso e lore sinistro do jeitinho que a gente curte.
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🎮 Informações Técnicas da Análise
Análise baseada na versão para PC via Steam, com gráficos otimizados a 60/90fps e som 7.1.
Chave de acesso fornecida gentilmente pela desenvolvedora.
Disponível para: 🖥️ PC | 🎮 PS5 | 🎮 Xbox Series X|S
Desenvolvedora: Sandfall Interactive
Publicadora: Kepler Interactive






