
Cronos The New Dawn abre como um soco no estômago, daqueles que te derrubam antes mesmo de levantar a guarda. A Bloober Team, direto da Polônia, já vinha marcada pelo terror psicológico de Layers of Fear e The Medium. Mas aqui a parada é outra: o estúdio resolveu abrir o baú existencial e mergulhar no espaço, num sci-fi de sobrevivência que mistura carne, máquina e paranoia.
O som que ecoa nessa jornada é “Down in a Hole”, do Alice In Chains, faixa do clássico Dirt (1992). Escrita em plena era do grunge, a música é um lamento sobre aprisionamento, perda de identidade e o peso de existir quando o mundo inteiro parece enterrar seus sonhos. E é exatamente essa sensação que guia o Traveler, protagonista amarrado ao olhar vermelho da Collective.
“Down in a hole, feelin’ so small”
“No buraco, me sinto tão pequeno.”
Essa letra não é só trilha, é metáfora pura da condição do jogador: pequeno diante de monstros grotescos, mas também diante de um sistema que define quem você é.

Entre o buraco e as estrelas
A Bloober já provou que sabe manipular medo, mas agora veste o terror de sobrevivência com um macacão sci-fi. O Traveler atravessa um planeta devastado, onde cada parede parece respirar biomassa e cada silêncio grita tensão. O jogo carrega ecos de Dead Space, mas temperado com o mesmo vazio existencial que vemos em Blade Runner 2049.
O peso cultural aqui é gigante: Cronos pode ser o primeiro passo da Bloober em sair da sombra dos remakes e construir seu próprio ícone de sci-fi horror.
E como todo buraco, a saída exige curiosidade. Vasculhar cada canto não é luxo, é sobrevivência. Em Cronos, ser ousado na exploração pode significar achar energia extra, munição esquecida ou até atalhos que transformam o ritmo da jornada.
O ritmo do sufoco
O gameplay é seco e cruel. Recursos escassos, munição contada, caixas que você quebra com a esperança de achar energia para upgrades. É survival horror raiz.
A pistola MK-1615 tem aquele recuo saboroso, com tiro carregado que pesa mais do que baque de bumbo em show de metal. O detalhe é que esse carregamento pode virar o jogo: segurar o gatilho no momento certo é o tipo de aposta que separa a vitória do pânico.
Os Orphans são o coração do desespero. Eles caem, mas não morrem sozinhos — corpos largados podem ser absorvidos, gerando aberrações maiores e mais rápidas. É aí que entra o flamethrower: não só como ferramenta de progressão, mas como purificador do campo de batalha. Aprendi rápido que cadáver queimado não volta pra te assombrar.

E quando a munição acaba, sempre rola a tentação de partir pro corpo a corpo. Mas a real é que bater em criatura deformada é como tentar empurrar um paredão de som ligado no máximo: pode até afastar, mas não resolve.

Forja, Ferrugem e Fúria — a arte de melhorar o que te salva
Em Cronos The New Dawn o caos tem regra: nada do que você carrega é inútil, se souber transformá-lo. Em lojas e estações espalhadas, a energia vira escolha — às vezes compensa gastar para melhorar armas e aumentar espaço no inventário; outras, para reforjar a armadura e segurar mais porrada. Eu optei por priorizar estabilidade e recarga em algumas armas, porque trocas rápidas salvam mais que tiro potente num aperto.

O craft aqui não é só “faça x item”: é um pensamento de bordel — combinar recursos para criar kits médicos, canisters de fogo e melhorias modulares que mudam o ritmo do combate. Vi colegas que preferiram investir em proteção e aguentaram mais encontros; eu, que sou mais agressivo, furei pra armas com charged shots e mods que amplificam o dano crítico. Ambas as abordagens funcionam — desde que você aceite a troca: mais defesa significa menos slots para tralha que vira upgrade.

Use o Ceifador para moldar seu elenco de espectros, e lembre-se: escolher quem trazer é parte do build. Em poucas palavras, Cronos recompensa planejamento tanto quanto punhos certeiros — forjar com cabeça é tão letal quanto plugar balas no lugar certo.
Ecos de dor e redenção
A narrativa não grita, ela sussurra como voz rouca de Layne Staley. A Collective vigia, questiona, testa o Traveler com frases enigmáticas. Quem somos? Pra quê existimos? Já não basta sobreviver — é preciso lidar com identidade e propósito.
A presença do Ceifador adiciona camadas bizarras: uma ferramenta capaz de puxar ecos de sobreviventes do passado para o presente. É como se fantasmas se tornassem aliados temporários, moldando a jornada com escolhas que ecoam além da própria morte. Mais uma metáfora do grunge: viver cercado de espectros que nunca te largam.
“Down in a hole, losin’ my soul”
“No buraco, perdendo minha alma.”
Essa perda é o fio condutor do jogo: monstros lá fora, dilemas aqui dentro.
Estética entre a carne e a máquina
Visualmente, Cronos é um show de horrores belos. O nevoeiro engole prédios em ruínas, a biomassa pulsa, e os corredores lembram tanto naves de Dead Space quanto ruínas cyberpunk. A direção de arte sabe dosar silêncio e barulho, luz fria e escuridão pegajosa.
O som é parte vital: um zumbido grave de luzes futuristas faz o coração gelar. O silêncio pesa mais do que grito. E a recomendação aqui é simples: joga de fone, porque cada ruído é pista — às vezes o sussurro de um inimigo fundindo no escuro é o único aviso antes do caos.
Caminhos além do abismo
Além da campanha principal, Cronos dá sinais de camadas extras: exploração não-linear, possibilidades de upgrades e mistério sobre viagens no tempo. Uma das maiores surpresas é visitar a Polônia dos anos 1980, pouco antes da Mudança, revelando como o apocalipse começou. O presente é podridão, mas o passado guarda as respostas.
E sim, existe espaço pra respiro: tem um gato. E você pode fazer carinho nele. Pequeno bálsamo em meio ao caos.
Afinações perfeitas x Notas fora do tom
Afinações perfeitas:
- Clima sci-fi de arrepiar, mistura perfeita de Blade Runner e Dead Space.
- Combate tenso com armas pesadas e tiro carregado que exige precisão.
- Mecânica do flamethrower como diferencial estratégico.
- Ceifador como ferramenta narrativa e mecânica de escolha.
- Arte visual grotesca e bela, trilha e silêncio que pesam no coração.
Notas fora do tom:
- Ritmo inicial pode soar arrastado para quem busca ação direta.
- Câmera ainda precisa ser calibrada em espaços apertados.
- Corpo a corpo pouco eficiente, punindo quem tenta improvisar.
- Inteligência artificial dos Orphans tem momentos previsíveis.
Nota final
9.0/10 – Cronos: The New Dawn é mais do que homenagem a Dead Space. É Bloober Team cavando fundo num buraco grunge existencial, costurando sci-fi e horror filosófico num pacote visceral.
“Down in a hole, feelin’ so small” nunca fez tanto sentido jogando videogame.
Enterrado mas ainda vivo
No fim, o que Bloober entrega é um jogo que te enterra no medo e na filosofia. Cronos The New Dawn é a prova de que survival horror pode ser mais do que susto: pode ser poesia amarga.
“I’d like to fly, but my wings have been so denied”
“Eu queria voar, mas minhas asas foram negadas.”
Essa negação é o peso que carregamos como Traveler, mas também é o motivo pelo qual seguimos jogando: porque no buraco, cada passo é luta pela própria alma.
Informações sobre a análise
Esta análise foi realizada com base na versão para PlayStation 5. A chave foi gentilmente cedida pela Bloober Team.
- Plataformas: PC, PS5, Xbox Series X, Nintendo Switch 2
- Lançamento: 5 de setembro de 2025
- Desenvolvedora: Bloober Team
- Publicadora: Bloober Team
- Idiomas: Inglês, Português (legendas) e outros
- Gênero: Survival Horror / Sci-Fi
- Jogadores: 1 (single-player)
🚀 Quer sentir o peso do vazio entre carne e máquina?
A primeira hora de Cronos: The New Dawn já está no canal, mostrando como a Bloober Team transforma sci-fi em terror existencial puro, embalado pelo lamento grunge de Alice In Chains.
👉 Dá o play no YouTube do Rockverse Play e acompanha o Traveler tentando sobreviver em um planeta que respira medo a cada parede.